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sábado, 8 de dezembro de 2012

ÁFRICA E O ESPÍRITO DA IGNORÂNCIA INTELECTUAL MOÇAMBIQUE COMO PONTO DE PARTIDA Introdução[1]



     Nesta reflexão a nossa  visão é de carácter epistemológica que a sua base está no espírito  filosófico da compreensão da realidade do mundo acadêmico assim como social. Falar do pensamento africano sem colocar em evidência o espírito conservador é equivale falar do pensamento europeu sem colocar em evidência o espírito racionalista mais virada para visão teocratica, é falar do pensamento norte americano sem ter em conta o espírito de pragmatismo. Tal vez as questões acima mencionadas justifiquem a existência da razão de uma intima ligação entre o pensamento africano e o espírito de conservadorismo de carácter sincretista que pode ser vista como efeitos da colonização se formos analisar no sentido da relação entre a causa e o efeito e por outro lado a natureza da própria cultura africana. Nesta perspectiva quando falamos de auto-afirmação do africano transparece mais orgulho, arrogância do aquilo que se define como verdadeiro espírito de auto-afirmação. Para não generalizar, nas zonas rurais existe o verdadeiro espírito de afirmação do carácter africanista ao contrário dequeles que se consideram como acadêmicos ou citadinos. Por outro lado, o nosso objectivo principal nesta reflexão é buscar afirmar que é importante valorizar e estimular o espírito de humildade transparência e solidariedades virtudes que realmente  vinham revelando como   verdadeira identidade dos africanos. Contudo, actualmente devido a influencia da política democrática de fundamento capitalista, os valores acima citados encontram em estado de degradação dentro das comunidades africanas, dando assim estimulo do desenvolvimento do espírito individualista.
     Portanto, ao tratarmos o assunto da humildade intelectual, é fundamental sublinhar a questão da conversão intelectual. A humildade constitui uma das virtudes fundamentais indispensáveis para uma pessoa que busca a prudência intelectual baseada no espírito da autenticidade da identidade humana. Portanto, antes de entrarmos em profundos detalhes sobre o assunto, evidenciaremos  a explicitação sintética de alguns termos tais como conversão, humildade e a identidade humana, visto que estes constituem a base da nossa reflexão. No entanto,  a humildade pode ser entendida como a qualidade de ser modesto no sentido de reconhecimento das nossas qualidades assim como as nossas limitações, isto manifesta-se pela valorização das qualidades dos outros assim como as nossas próprias qualidades.[2] A humildade também significa the quality of not thinking or imagining that you are better than others, in short it is the  quality of being humble.[3] Por outro lado, discernimento é the ability of showing or presenting good judgments in relation or about a quality of somebody or even something.[4] Nesta perspectiva percebemos o discernimento como acto ou abilidade de entender e julgar as diferentes realidades das pessoas ou coisas. Portanto, é a capacidade que nos permite distinguir de um modo claro as diferenças existentes no seio das realidades.[5]
     A iniciativa de refletirmos nesta a questão surge-nos no contexto em que, as áreas do conhecimento científico  estão se multiplicando cada vez mais ao nível de fragmentação. E por traz disso, estão presente também as questões políticas assim como econômicas, que sustentam as tais fragmentações. Entretanto, Durant salienta que (...) dados indutivos caem em cima de nós de todos os lados, como a lava do Vesúvio; ficamos sufocados por factos descoordenados; nossa mente fica esmagada pelas ciências que se geram  e multiplicam num caos de especializações por falta de pensamento sintético e de uma filosofia unificadora. Somos todos, meros fragmentos daquilo que um homem poderia ser.[6]
      O preocupante é que, os cursos acadêmicos  dentro dos países em via do desenvolvimento são escolhidos consoante a sua aceitação ao nível social e do mercado de emprego de uma forma especial e não na base da vocação do sujeito que  escolhe o tal curso. Quanto a isso, o objectivo do estudante não é de aproveitar o objecto do curso em si, mas sim o cumprimento do programa do curso, e o pior é que na maioria dos casos o estudante  nem se importa  em procurar compreender como é que  o programa do curso foi cumprido. A preocupação fundamental centra-se na obtenção do diploma que diz respeito à realização do tal curso. Na razão disso, nós notamos com muita facilidade que existem cursos acadêmicos que se apresentam com muita afluência dos estudantes que outros. Ao passo que os estudantes que fazem cursos com menor concorrência podemos citar no caso de línguas bantu, linguística, sociologia antropologia, arqueologia e a filosofia no sentido especial que no olhar do senso comum é vista como um curso que só pode ter valor no mundo acadêmico e não no sentido de responder as questões que a sociedade enfrenta no seu geral. Devido a isso, muitos estudantes que freqüentam tais cursos passam definindo a vida acadêmica como um perpétuo  dilema. 
   Quanto, à questão da humildade intelectual, uma das tendências que ameaça esta virtude é arrogância baseada no desenvolvimento do espírito dogmático que prevalece no mundo científico. Existe uma grande tendência de absolutizar os conteúdos científicos, esta tendência  desenvolve-se pela falta da distinção entre o essencial e o absoluto. A verdade é que o absoluto está isento de qualquer transformação, ao contrário  do essencial que a sua primazia  pode ser definido na base de uma visão dinâmica acto que reflecte um carácter que é verdadeiramente científico. Toda tendência que busca definir a verdade numa dimensão dogmática tem por finalidade o domínio e monopolização  do poder da sabedoria no seu geral, e não devemos esquecer aquilo que Fernando pessoa afirmou de que crer é morrer enquanto que pensar é duvidar, crença é o sono do intelecto cansado...[7] isto não quer defender que os tais elementos não tenha sentido dentro da vida humana, mas somente mostrar que as tais tendências têm o seu campo propício que é religioso onde a verdade só pode ser afirmada ou dita por especialistas “ungidas” com a finalidade de proferir as tais verdades, no caso de pastores, padres e outros lideres religiosos. Até que actualmente as religiões que buscam afirmar o espírito de verdadeiro ser da religião tentam se afastar daquilo que foi o carácter antigo das religiões assim como se nota nessa afirmação “in mankind´s early history, religions were primitive, childish, superstitious and filled with magic and mistery.”[8] Entretanto, as religiões que buscam afirmar autenticidade do ser da religião mostram a visão de que religion properly deals not only with man survival, but also with integration or wholeness of the human personality, and the mean of life.[9] Embora, que até aos nossos dias devido a preguiça ou pobreza mental na maior parte dos lideres religiosos, se apelam nas antigas crenças que só facilita manipular e explorar os inocentes e ignorantes por meio de promoção do sentimentalismo irracional, imposição de medo nas pessoas algo que não contribuem nada no processo da integração humana, compreensão do sentido da vida e nem no processo de desenvolvimento da personalidade humana de uma maneira especial. Portanto, good religion is sophisticated rather than primitive, mature rather than childish, founded on the reality rather than on illusion and must in no way be in conflict with science and its discoveries.[10] Por outro lado, o saber verdadeiramente científico não tem nada haver com caracteres  preconceituosos e nem é dogmático como a maior parte dos ignorantes pensam. O conhecimento Científico é imparcial, sistemático e com métodos objectivamente padronizados; por isso nenhum ser humano pode ser considerado como o absoluto no sentido de possuir conhecimentos científicos seja pela sua formação acadêmica,  experiência profissional ou mesmo pela sua capacidade intelectual. Isto quer  dizer, ninguém sabe o verdadeiro ser da ciência,  e nem da natureza do próprio homem, Aristóteles afirmou que “the true nature of anything is the highest it can become. By that standard, the true nature of man is what he can become at his highest and Best.”[11] Neste contexto o homem só pode atingir o ideal da sua natureza na base do seu desejo de alcançar autenticidade da sua natureza humana e a ciência por sua vez pode atingir a plenitude da sua natureza na base dos esforços dos homens. Esta afirmação nos revela que, ninguém nasceu para ser justo, confiado ou mesmo ser líder, somente nos transformamos naquilo que nós desejamos ser, que inclui ser justo, culto, paciente e assim para diante. Portanto, o docente deve desmotivar aos estudantes o espírito de decorro ou memorização para estimular a capacidade de pensamento criativo, que deve ser efectuado pelos trabalhos de pesquisa e os exercícios de reflexão baseado na fundamentação progressiva,[12] visto que the key Word in science is to discover and science itself  is the process of reducing misteries to knowledge[13]. Este é uma forma de reconhecer, que os animais tal como os seres humanos tem capacidades e é na base de tais capacidades que eles devem explorar o seu meio, acima disso, os seus órgãos sensoriais constituem meios propícios para a orientação desse processo.[14] 
   Voltando para o assunto do carácter imparcial e objectivo do conhecimento científico, é fundamental recordar que existe uma desvalorização ou preconceito em relação os conhecimentos enraizados nas tradições e culturas africanas. As falas do Nyerere sobre a educação estimulam a visão de que os estudantes africanos devem ser ensinados a pensarem globalmente para agirem localmente, é neste sentido que ele afirmou que our Young men and women must have an african oriented education. That is, an education which is not only given in Africa but also directed at meeting the present needs of african societies.[15] Até este ponto, nós mostramos os grandes obstáculos do desenvolvimento científico dentro dos países do terceiro mundo, que é causado pela prevalência do dogmatismo científico e para provar a veracidade desta afirmação é só passar nas grandes universidades do nosso país observando com muita atenção notarás que existem fichas que tem mais de quinze em uso sem nenhuma transformação, o pior de tudo é que os tais docentes que se consideram de “doutores,” “mestres” ou  “Doutores” repetem as avaliações dos anos anteriores algo que torna vantajoso para os estudantes repetentes da disciplina. Na realidade africana esta tendência basea-se naquilo que foi notado de que na maioria das convicções  africanas prevalecem mais o conservadorismo e a mistura das prática religiosas. Este é uma das tendências,  que promove o desenvolvimento do sincretismo científico, algo que está relacionado com o ponto de multiplicação  fragmentada das especializações científicas causada pela falta da capacidade do pensamento sintético. Existem também inclinações evidentes de aplicação  de diferentes  pensamentos ou doutrinas científicas, sem um senso crítico e analítico, e isto é  notável na maior parte dos professores que lecionam nas instituições universitárias. Portanto, seguem as doutrinas científicas sem se perguntarem a razão do ser de tais doutrinas; isto justifica se  pela carência  do pensamento crítico, analítico e criativo na parte de tais docentes. Neste ponto, levante-se o outro problema que é da pobreza mental. Neste contexto, as religiões assim como ciências que não estimulam o pensamento criativo nas pessoas e o progresso da vida humana, estimulam as doenças mentais. Num contexto expectativo, as ciências tanto como as religiões devem estimular a saúde mental, no sentido de mostrar verdadeiras iniciativas que possam garantir a compreensão da realidade e o sentido das coisas e a vida humana de uma maneira especial. A saúde mental portanto significa wholeness, clear perception of reality, the capacity of resolution of inner conflicts, creativeness, courage, generosity, consistency, faithfulness to truth, love… [16]  Pensando no estado em que se encontra o nosso país, é importante desenvolver metodologias acadêmicas direcionado para o estímulo do pensamento criativo para responder as demandas do processo do desenvolvimento do país e a sua respectiva relação com os outros países. Os nossos centros acadêmicos devem estar disponíveis em formar os futuros líderes com capacidade de lidar com os desafios do país racionalmente e com espírito dinâmico enraizado no pensamento criativo. Isto porque, aquele que tem capacidade de prever o seu futuro com a mente é destinado a ser senhor e mestre enquanto aquele que só pode trabalhar com o corpo, é por natureza um escravo.[17] Neste caso, a educação deve ser entendida como a melhor religião para que os africanos e outros povos não venham a sofrer a segunda ou mesmo a terceira fase da colonização. John Dewey afirmou que a educação deve ser concebida, não meramente como uma preparação para a maturidade, mas sim como um contínuo crescimento da mente e uma contínua iluminação da vida.[18] A nossa formação intelectual deve nos fazer compreender que a meta da vida não é a perfeição como muitos arrogantes têm pensado, mas sim o eterno processo de aperfeiçoamento e amadurecimento.[19] Assim sendo, a escuta e a valorização das opiniões dos outros é muito importante no processo desenvolvimento e construção do conhecimento científico. Nesta convicção vale sublinhar a visão de que em todo homem há algo que nós podemos aprender com ele, e sendo assim nós somos discípulos de cada um de nós.[20] Portanto não vale a evidencia da arrogância e orgulho, que as algumas pessoas que se consideram de intelectuais se manifestam em frente dos outros com a finalidade de desvalorizar as personalidades dos mesmos. A verdade é que tudo o que constitui de especial dentro das nossas personalidades só tem sentido na presença dos outros que não possuem tais virtudes ou habilidades. Inicialmente eu sentia que era a única pessoa que sentia o super-orgulho dos africanos em especial dos moçambicanos que se consideram serem intelectuais, mas confirmei que era uma verdade vulgar vista mesmo por pessoas menos consideradas pelas sociedades. Um dia durante o passeio na cidade de Maputo cruzei-me com um individuo diminuído mentalmente, surpreendeu-me quando gritou para  mim de que queria uma pessoa para lhe escutar o que ele sentia, mas devido a sua dificuldade mental ninguém dava “a bola” nele, eu tive paciência e contou-me de que ele sentia muita arrogância na parte daqueles que se consideravam serem intelectuais, para ele, eles se manifestam como pessoas que nasceram intelectuais, isto é como pessoas que nunca tiveram professores na vida deles ou nos seus percursos intelectuais. Na minha visão isso reflecte a falta de ética, na maioria dos casos a nossa formação acadêmica valoriza mais o fazer do que como fazer? para que fazer? E como é que eu devo me portar enquanto estiver a fazer? Como conseqüência as pessoas depois de concluírem a formação acadêmica se acham “supermen” em relação aqueles que não têm nenhuma formação superior. E essa tendência afeitas todas as áreas seja na política, na religião e assim para diante. O professor se considera deus enfrente dos seus alunos, padre/pastor, político e assim para diante como conseqüência torna difícil para o africano renunciar o poder, o pior disso somos corruptos em todas as dimensões, somos seguidores do princípio de “cabritismo” que sublinha que o cabrito come onde está amarrado. No século passado fomos escravitizados  pelos nossos colonizadores, mas nesses dias somos escravos dos nossos irmãos e de nós mesmos na base das nossas falsas doutrinas. Os nossos políticos nos enganam que seguimos o sistema democrático enquanto que no fundo somos comunistas e autoritaristas, no primeiro mandato do Armando Guebuza actual presidente de Moçambique, popularizou o discurso de que a sua liderança tinha finalidade de “combater a pobreza absoluta” no segundo mandato o discurso virou para “redução da pobreza absoluta”. Nós como povo moçambicano somos simples e inocentes seguidores desses discursos que carecem da filosofia ou o espírito de consistência. Em geral a nossa educação  carece muito da ética de transparência como conseqüência gera mais os corruptos do que os verdadeiros líderes, que compreendem o sentido da afirmação de que antes de correr para o dinheiro, para a técnica, para o poder, antes de se fechar para sempre no escritório, na fabrica ou no laboratório busque primeiro o valor da sabedoria e a ética, que são fontes para previsão das causas e efeitos das suas acções....acima disso lembra-te de ser, ser humano quer dizer cuida-te de si mesmo e da sua espécie e busque sempre ser fiel pela verdade. [21]

(O texto esta em desenvolvimento…….)




[1]Atanásio Fabrino Atanásio Licenciado em Filosofia, conferido pela Catholic University of Eastern Africa-Nairobi-Kenya.
[2] Cf.Dicionário Ilustrativo da Língua Portuguesa ((org.) 2001:458).Lisboa: Porto Editora.
[3] Cf.Ashby, Machael; Wehmeier, Sally et al (1997:760-761) Oxford Advanced Learner´s Dictionary. Oxford University Press.
[4] Cf.Ibd.433.
[5] Cf.Ibd.287.
[6]Cf. Durant, Will (1926: 103) Os pensadores: A hisóoria da Filosofia. São Paulo: Editora Nova Cultura Ltda.
[7] Alves, Fátima; Carvalho, José et al (2002:3) Introdução à Filosofia 11º Ano: A Chave do Saber. Lisboa: Texto Editora, 4ª Edição.
[8] Ibd.13.
[9] Ibd.14.
[10]Cf.Ibd.15.
[11] Rathbun, J  Harry ( 1976:10) Creative Initiative: Guide to Fulfillment. California: Palo Alto.
[12] Conde, Fernanda (1991:6) Novo programa da Introdução a Filosofia 10º ano: Perspectivas. Lisboa: Porto Editora.
[13] Cf.Ibd.13.
[14] Cf.Ibd.153
[15] Lema, Elieshi; Omar, Issa at al (2006:2) Nyerere on Education: Nyerere Kuhusu Elimu. Dar- Es-Salaam: Hakielimu.
[16] Cf.Ibd.41.
[17]Cf.Ibd.96.
[18] Cf.Ibd.472.
[19] Cf.Ibd.474.
[20] Cf.Ibd.28.

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